Eulogy – O que você deixou de ver por estar com o coração ferido?

Existe um tipo de dor que não grita, mas silencia. Uma mágoa que, sem que percebamos, contamina a forma como olhamos o mundo, as pessoas e até o nosso passado. É sobre esse tipo de dor que o episódio Eulogy, da 7ª temporada de Black Mirror, nos convida a refletir.

Apesar do pano de fundo futurista e da tecnologia envolvida, o episódio fala de algo muito antigo e profundamente humano: os mal-entendidos do amor, as escolhas feitas com o coração ferido e tudo aquilo que deixamos de ver quando estamos dominados pela mágoa.

Phillip e Carol: o amor interrompido por inseguranças

Phillip viaja para Londres para reencontrar sua namorada Carol. Reserva um restaurante caro, um hotel elegante, e naquela noite, cheio de expectativas, faz um pedido de casamento.

Mas Carol, diante dele, silencia. Sai da mesa sem dizer uma palavra.

Confuso, devastado, Phillip se entrega à bebida e destrói o quarto de hotel. No dia seguinte, tudo está limpo, a camareira arrumou o caos. Ele apenas junta suas coisas e vai embora, sem perceber que havia deixado algo importante para trás.

Décadas depois, já após a morte de Carol, uma empresa chamada Eulogy oferece a ele uma experiência sensorial de revisitar memórias com ela. E é nesse reencontro com o passado que ele encontra a verdade que nunca viu: uma carta esquecida, deixada por Carol naquela noite.

E o conteúdo da carta muda tudo.

A verdade que ele nunca soube

Carol conta que sabia da traição de Phillip com Emma e que, tomada pela dor e pela raiva, teve um caso de uma noite com outro homem.

Ela engravidou nessa noite.

Na carta, diz que o ama profundamente, que deseja ter o bebê, e pergunta se ele a aceitaria mesmo assim. Termina dizendo:

“Se ainda quiser conversar, me encontra amanhã. Eu vou entender se não quiser mais me ver. Eu te amo.”

Mas, Phillip nunca leu essa carta.

Nunca soube da gravidez.

Nunca soube do arrependimento dela.

Nunca teve a chance de responder.

E isso muda tudo.

Quantas vezes você afastou alguém por interpretar um silêncio com os olhos da rejeição quando, na verdade, era só dor?

A dor distorce a percepção e pode te fazer perder o que mais importa

A grande tragédia do episódio não é a traição. Nem mesmo a perda.

É o quanto a percepção de Phillip estava turvada pela mágoa, pelo ciúme e pela raiva.

É o quanto ele não conseguiu ver o amor de Carol porque estava ocupado demais tentando se proteger do medo de ser ferido.

Isso nos leva a uma verdade incômoda: muitas vezes, não é o que a pessoa fez — é o que você sentiu com base nas suas feridas.

Carol silenciou, mas não porque não o amava.

Ela se calou, porque estava em pedaços.

E Phillip interpretou esse silêncio como rejeição.

Quantas vezes você já fez o mesmo?

A carta que você talvez nunca tenha lido

Talvez, em algum ponto da sua vida, você também deixou passar um gesto, uma conversa, um olhar…

Talvez, alguém tenha tentado se aproximar, mas você estava ocupada demais com a dor para perceber.

Talvez, o perdão, a reconciliação, o recomeço estavam ali.

Mas você, assim como Phillip, não viu.

Três perguntas para você se encontrar com sua verdade:

Será que estou interpretando o presente com os olhos de um passado ferido?

Existe alguma “carta” que eu ainda não li ou alguma verdade que ignorei por medo de me machucar?

Se eu revisse minhas histórias com mais compaixão, o que descobriria que nunca percebi?

Eulogy não é apenas um episódio de ficção científica. É um lembrete.

De que a dor não curada distorce.

De que a raiva cega.

De que o amor, às vezes, está ali, mas a gente precisa estar com o coração aberto para reconhecer.

Você não precisa de uma tecnologia futurista para reencontrar a verdade.

Precisa de coragem para encarar sua própria narrativa com mais honestidade, mais escuta, mais amor.

Com amor,

Sol Mendes

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